sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Eu tô com cheiro de sexo?


Ainda nem terminei de ler "De A-ha à U2" (Editora Globo), livro em que Zeca Camargo relata os bastidores das principais entrevistas que realizou com músicos, mas já me inspirei para contar um fato curioso que me aconteceu em uma das entrevistas de minha humilde e recente carreira com pessoas do mundo da música.

Desde que entrei no curso de Jornalismo tinha vontade de entrevistas músicos. Quando surgiu a primeira oportunidade, já no 2° semestre, com uma pauta sobre o rock gaúcho, não tive dúvidas: preciso entrevistar Júpiter Maçã. Só para situar, nos anos 80 o dito cujo, até então conhecido somente como Flávio Basso, fez parte das bandas TNT e Cascavelletes, das quais esta última, na minha opinião, trata-se da melhor banda já surgida no país, com muita inspiração no rock dos anos 60 e letras debochadas e acredtito que tenha colaborado para moldar a cara do rock feito no Estado.

Hoje, usando os codinomes Júpiter Maçã ou Júpiter Apple, quando canta em inglês, o cara faz uma música que mescla experimentalismo, psicodelia e lisergia. Continua sendo muito aclamado por sua história com o rock e por sua criatividade musical.

Tinha um certo receio em entrevistá-lo, pois as reportagens que havia assitido em que ele era o entrevistado não me pareciam fáceis. Isto porque, ele parece adquirir um personagem (na verdade não dá pra saber onde termina o personagem e onde começa o verdadeiro cara) totalmente egocêntrico e que dá a impressão de estar sempre sob efeito de alguma substância. Fui alertada também de que seria meio difícil tirá-lo de sua casa, um hotel no centro de Porto Alegre, devido, segundo boatos, a uma possível síndrome de pânico. Boato que pode fazer sentido se levarmos em conta o verso de sua música "Não vai mais sair na rua/Síndrome de Pânico". Contudo, permanecia disposta a enfrentar o desafio.

Através de uma fonte, consegui o telefone do hotel em que Júpiter morava. Pretendia entrevistá-lo juntamento com Lucas Ranke, o baixista da sua banda e também guitarrista da Identidade. Além de estar juntando 2 gerações do rock gaúcho, isto poderia ajudar a convencê-lo de aceitar a entrevista. Então decidi ligar. Consegui falar com Júpiter de primeira, ele foi super simpático e aceitou numa boa. Nossa, não pensei que seria tão fácil! Estava totalmente enganada, aquele era apenas o começo. Marquei em um domingo, em um ponto da Redenção.

No dia e horário marcado, nada do cara aparecer. Esperei um tempinho considerável. Aí resolvi ligar. Ele diz: "Olha, eu ão esqueci viu... é que eu não tinha o teu telefone pra te avisar. Surgiu um imprevisto e eu não pude ir. Vamos marcar outro dia. Tu tá aí no 'café' ainda?"

Eu nunca tinha falado em café nenhum. Eu nem sequer tomo café! Bom, depois disso pensei que o problema deveria ser mesmo sair de casa. Liguei em um outro dia para uma nova tentativa, desta vez me oferecendo para ir a seu encontro. Ele aceitou: "Então vamos marcar para... que horas são? Quer dizer que dia é hoje? Tu tá aí no Bells?"

Nunca tinha falado em raio de Bells nenhum. Mas já estava me acostumando a lidar com aquilo. Marcamos e antes de desligar, assim como quem não quer nada, perguntei se por acaso ele não tinha o telefone do Frank Jorge, um músico que eu sabia que ele tinha contato e que eu pretendia entrevistar também. Secamente e respondeu: "Não!". Mas após alguns elogios do tipo que ele havia se superado no o seu último CD, que ainda não tinha sido lançado, mas que já havia vazado na internet, eis que ele muda de idéia: "Ah, acho que eu tenho aqui o telefone que tu querias." Me passa o telefone residencial e o celular do Frank Jorge e diz logo depois: "Então tu achas que eu me superei...". Que figura!

Para encurtar o caso, finalmente chegou o dia da entrevista. Cheguei ao tal do hotel e esperei mais uns 15 minutos até que ele descesse. Quando desceu, a primeira coisa que percebi foi seu rosto todo marcado por pequenos cortes feitos com gilete e um forte cheiro de loção pó-barba. Estava acompanhado de uma mulher, se depediu, acendeu um cigarro e começamos a entrevista em um banco naparte de fora do hotel.

Nossa conversa se resumiu a respostas monossilábicas ou que nada tinham a ver com as perguntas, como quando ele disse: "Ainda sou o maior! É o que dizem, não são palavras minhas." Mas o melhor ainda estava por vir: "... aí, uns 10 anos depois... 10 anos? Já passaram-se 10 anos? Passaram-se? ... hããã... Eu tô com cheiro de sexo, né?"

Imagina a minha cara depois dessa! Uma aspirante à jornalista, recém no 2° semestre! Só ri um pouco e tentei retomar o raciocínio. Depois disso a entrevista não durou muito. Quando encerrei ele estranhou: "Mas só isso? Pensei que seria umas 2 horas, com café e charuto!".

Ao nos despedirmos ele foi uma simpatia só, muito mais do que tinha sido ao longo de toda a nossa conversa. Convidou para que eu voltasse sempre que quizesse e ficou acenando da porta do hotel.

Infelizmente não tenho mais a fita com essa conversa, pois era emprestada juntamente com o gravador. Valeu pela experiência, porque o material eu não aproveitei na matéria. Na época até pensei que este fato se devesse a incompetência minha, mas lendo de "Aha à U2", descobri que as entrevistas com músicos dependem, em grande parte, se o cara está a fim ou não de falar algo produtivo (principalmente se esse cara for o Júpiter Maçã). Também aprendi que as entrevistas com celebridades da música não mudam muito, o interessante mesmo são o bastidores.

10 comentários:

Anônimo disse...

Lisi, que bom que voltaste a atualizar o blog.
Adoro essa história :D

E quanto a tua pergunta, férias? o que são férias? hehehe

Espero que estejas bem :D

Beijão e saudadona

Unknown disse...

cascaveLLetes tem 2 "L" [ou 2 "T", vá saber...]. sou chato quanto a isso, hahaha!

jpa tinha ouvido essa história há muuuito [muito?] tempo, mas relembrar foi legal.

dá uma lida lá no "tripa de papos" [lá no blog], acho que tem algo lá em que tu pode "colaborar" com tua opinião, hahaha...

e sobre entrevistas... meu "sonho de consumo" é, hoje, entrevistar o arthur [de faria]. gravataiense, músico, super legal pra caralho, hehehe.

saudações!!

Amanda Porterolla disse...

Cara, eu sabia que ele era pancada... Mas não tanto! Essa é uma das minhas histórias de entrevistas prediletas! Beijos!

Lisiane de Assis disse...

"jpa"???
Arthur de Faria se escreve com letra maiúscula no início, é nome próprio! Ah, e todo o início de frase também se escreve com letra maiúscula!
Sou chata quanto a isso!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

"jpa" = erro de digitação = já
e quanto às letras minúsculas, escrevo assim mesmo na internet. só me preocupo com pontuação e grafia corretas, [mode irônico+bufando] querida [/mode irônico+bufando].

hahahahahahahahaha!
saudações!!

Eduardo disse...

AHhh, o Bells!!!
Um dia tem que marcar entrevista com a Destilantes!

Anônimo disse...

" De A-ha à U-hu " !!!

Beijos!

Mateus Ferraz disse...

Ótimo post guria!

É certo que o cara é uma mala (lembra do autógrafo no LP?), mas ele tb é foda!

Grande abraço e vamos marcar a reunião para discutir sobre a revista.

Cleidi disse...

Que história, hein, Lisi!? hehehe Muito boa! São as pérolas da profissão! Beijos