A Mulher Bala sempre teve uma fiel escudeira, sua companheira de todas as horas, sua melhor amiga. Aquela que estava sempre por perto para presenciar seus tão famosos furos, dos mais rotineiros (sim, já havia virado rotina Bala cometer furos), aos mais inacreditáveis. Como na vez em que foram se inscrever para um curso gratuito, na época do Ensino Médio estavam sempre atrás deste tipo de oportunidade, do qual era necessário levar uma documentação básica para realizar a inscrição. Chegando no balcão a atendente começou a perguntar à Bala:
- Trouxe identidade?
- Não...
- CPF?
- Não tenho...
-Comprovante de residência?
- Esqueci...
A moça deve ter pensando "então o que tu tá fazendo aqui?", mas disse simplesmente que ela não poderia se inscrever no tal curso naquele dia, pois não estava munida da documentação necessária.
Teve também a ocasião em que Mulher Bala estava se tornando uma fumante de final de semana. Foi acender um daqueles cigarros de menta e, talvez por sua pouca intimidade com o cigarro ou por sua distração... não, não, foi por sua sina de cometer enganos mesmo, que acendeu o cigarro ao contrário! Sua fiel escudeira, que presenciou tudo, olhou com curiosidade para a cara da amiga de "o que tem de errado com esse cigarro", ao tirá-lo dos lábios e examiná-lo com as sobrancelhas franzidas. O bom dessas histórias é que rendiam boas risadas às amigas.
Durante alguns anos a rotina das duas companheiras foram compartilhadas, não tinha o que uma fazia que a outra não sabia, não opinava, não incentivava. Isto se dava porque, em alguns aspectos, eram muito parecidas. Nos gostos, ideias, sonhos. É, ambas compartilhavam até alguns sonhos em comum. Há quem dissesse que aquela amizade seria eterna.
Mas quis o destino que seus caminhos se opusessem em determinado momento. A melhor amiga de Mulher Bala obteve algumas conquistas que começaram a trilhar um de seus sonhos em comum. Enquanto Bala, que não teve a mesma sorte, passou a buscar outros rumos. Porém, o determinante para o afastamento das fiéis escudeiras de fato, foi o prícipe encantado que chegou em seu cavalo branco e capturou o coração de Mulher Bala para sempre - na verdade era um sapo, mas pra botar isso na cabeça dela... -. A partir daí, Bala se deslumbrou com o primeiro amor correspondido. Nada mais fazia sentido, não enxergava mais ninguém, de sua boca só saiam frases do tipo "blá, blá, blá, príncipe encantado...".
Assim, as antes fiéis escudeiras, foram cada vez se afastando mais. Não pela vontade da melhor amiga de Mulher Bala, que por um bom tempo ainda insistiu, tentou abrir os olhos da companheira, dizendo que todos precisam de amigos, que não se pode viver com objetivos voltados para uma única pessoa. Mas não adiantava, Bala não tinha mais vontade própria. Era como se estivesse enclausurada no castelo do príncipe, e abdicado até de sua liberdade. Pois mesmo quando sua amiga convidava para fazer algo, mesmo que esporadicamente, Bala só dizia "é que o príncipe... é que combinei com o príncipe... é que o príncipe que ir ao..."
Como paciência tem limite, a fiel escudeia de Bala desistiu, e seguiu seu rumo. Também encontrou seu príncipe encantado, mas nem por isso, deixou os amigos e costumes de lado. Por incrível que pareça, quando raramente se viam, Bala e a melhor amiga, continuavam sendo as melhores amigas, conversavam como se nunca tivessem se afastado, se entendiam muito bem. Mas tais encontros aconteciam por acaso, porque nunca mais dedicavam um tempo para sair juntas. Bala porque "nunca tinha tempo" e a amiga porque desistiu mesmo.
Apesar de não ser cômico o relato, este é considerado por muitos um dos maiores furos da Mulher Bala.